Ex-secretário de Segurança de Goiás, Ernesto Roller, deixa a sede da PF |
Cabeceiras,GO 15-02-2011 ás 20h25min
Há ainda seis oficiais lotados no interior, que serão transferidos ainda nesta tarde para a capital do estado. Os detidos são suspeitos de integrar um grupo de extermínio que agia principalmente na região do Entorno do Distrito Federal.
Entre os investigados, estão o ex-secretário de Segurança Pública de Goiás Ernesto Roller e o ex-secretário da Fazenda estadual Jorcelino Braga, ambos na condição de suspeitos pela prática de tráfico de influência que resultaram nas promoções de patentes de integrantes da organização criminosa.
Roller é o atual procurador-geral de Goiânia. Candidato a vice-governador de Goiás na última eleição pela chapa de Wanderlan (PP). Segundo apuração do Ministério Público goiano (MPGO), responsável por uma série de investigações contra o bando de matadores, Roller teria protegido os PMs investigados, promovendo-os após serem denunciados à Justiça por suposto envolvimento nas mortes de inocentes.
Deputado estadual até o ano passado — como concorreu a vice-governador não pôde disputar a reeleição para a Assembleia Legislativa goiana —, Roller tinha como base eleitoral Formosa, sua terra natal, onde está baseado o 16º Batalhão da PMGO, responsável pela maioria das execuções, segundo as investigações.
Execuções
Além do sequestro e da execução de um fazendeiro e de quatro moradores de Flores de Goiás e Alvorada do Norte, um grupo de oito policiais militares do 16º Batalhão, liderado pelo major Ricardo Rocha Batista, é investigado por matar 15 pessoas em menos de dois anos em Formosa. O major foi um dos primeiros a serem presos pela PF na manhã de hoje, segundo fontes do MPGO.
As vítimas do bando liderado por Ricardo Rocha eram jovens, quase todos viciados em algum tipo de droga. Todos morreram com tiros à queima-roupa, ao menos uma bala na nuca, sem demonstrar reação, de acordo com laudos cadavéricos revelados pelo Correio Braziliense em série de reportagens publicadas desde maio de 2009.
Mesmo indiciado pela Corregedoria da corporação, respondendo a inquéritos por homicídio e com a candidatura impugnada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o oficial disputou vaga na Assembleia Legislativa de Goiás, mas acabou perdendo nas urnas.
O major e os outros sete PMs foram afastados do trabalho no começo de março último, logo após denúncia da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Assembleia Legislativa de Goiás. Duas semanas depois, três soldados e um sargento da mesma unidade foram presos sob acusação de envolvimento em crime de pistolagem.
Eles seriam os autores do sequestro do fazendeiro José Eduardo Ferreira, 56 anos, assassinado um ano antes. A morte teria sido encomendada por outro produtor rural, com quem a vítima havia brigado por disputa de terras, segundo investigação da Polícia Civil goiana.
Confira entrevista com o major da Polícia Militar de Goiás Ricardo Rocha, acusado de liderar grupo de extermínio no Entorno
"Não matarás"
Batizada de Sexto Mandamento – em referência ao decálogo bíblico, cujo sexto mandamento é "não matarás" –, a operação para prender PMs e autoridades goianas foi desencadeada pela Superintendência da PF em Goiás na manhã de hoje e envolve 131 policiais federais e 12 oficiais da Polícia Militar de Goiás.
Entre as vítimas da quadrilha formada por policiais militares de diversas patentes e alvo da operação realizada neste momento, de acordo com a PF, estariam crianças, adolescentes e mulheres sem qualquer envolvimento com a prática de crimes. O grupo de extermínio é investigado por federais baseados em Goiás há cerca de um ano.
Segundo as investigações, "a organização criminosa tinha como principal atividade a prática habitual de homicídios com a simulação de que os crimes haviam sido praticados em confrontos com as vítimas. Alguns dos crimes foram praticados durante o horário de serviço e com uso de carros da Polícia Militar, de maneira clandestina e sem qualquer motivação".
Em nota, a PF afirma que "restou evidenciado na investigação que, nos últimos 10 anos, os integrantes da organização criminosa começaram a fortalecer a sua atuação nos municípios de Formosa, Rio Verde, Acreúna, Alvorada do Norte, bem como Goiânia. Assim, onde se instalavam em decorrência de remoções às diferentes unidades da PM/GO, o número de vítimas de homicídios em supostos confrontos com aquela Corporação aumentavam consideravelmente."
Dos 19 mandados de prisão contra PMs, 13 devem ser cumpridos na capital do estado. O restante, no interior goiano. operação conta ainda com a participação da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, do Ministério Público de Goiás, do Poder Judiciário de Goiás, da Secretaria de Segurança Pública de Goiás, além dos comandos da Polícia Militar e da Polícia Civil de Goiás.
Os presos devem responder pelos crimes de homicídio qualificado em atividades típicas de grupo de extermínio, formação de quadrilha, tortura qualificada, tráfico de influência, falso testemunho e ocultação de cadáver.
Denuncie
A Polícia Federal e a Secretaria de Segurança Pública de Goiás iniciarão as buscas às pessoas desaparecidas após abordagens policiais e criou um canal de denúncia com o endereço denuncia.srgo@dpf.gov.br, por meio do qual a população poderá encaminhar informações para auxiliar a atividade policial de busca, bem como outras informações sobre crimes não esclarecidos. As identidades dos denunciantes serão preservadas.
Veja reportagens anteriores
» Grupo de PMs concentra homicídios
» Pistoleiros aterrorizam Entorno
» PMs suspeitos são afastados
» PMs na mira do fogo amigo
» MP pede prisão de major
» Milícia a serviço de fazendeiros
» "Sempre atirei e matei em confronto"
Fonte: Correio Braziliense
Postar um comentário
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade é do autor da mensagem