Polícia Federal garante que investigação está só começando

Polícia Federal garante que investigação está só começando

Objetivo é desvendar mais de 40 crimes em que há suspeita de envolvimento de policiais
Cabeceiras,GO 16-02-2011 ás 08h40min
O superintendente da Polícia Federal (PF)em Goiás, delegado Carlos Antônio da Silva, disse ontem que a prisão de 19 militares goianos suspeitos de envolvimento em um grupo de extermínio, na Operação Sexto Mandamento, representa apenas o início das investigações sobre a morte de mais de 40 pessoas no Estado. "Eles agiam de forma aleatória na escolha das vítimas, que geralmente contrariavam interesses do grupo, mas mataram muita gente inocente, que estava no lugar e na hora errados", contou.

Carlos Antônio da Silva disse que contra 17 militares a PF já tem provas técnicas sólidas do envolvimento de cada um deles no grupo de extermínio investigado há mais de 1 ano pela PF e revelou que foi em 22 de novembro do ano passado a última ação criminosa conhecida do bando.

Nesta data, os jovens Adriano Souza Matos e Bruno Elvys Lopes desapareceram depois de uma abordagem de policiais do Batalhão de Choque da PM às vítimas nas proximidades do Parque de Exposições Agropecuárias da Nova Vila. Segundo o superintendente da PF, o caso está resolvido. "Temos provas como escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, depoimentos de testemunhas, entre outras provas muito robustas que incriminam os militares suspeitos", revelou.

Carlos Antônio disse ainda que a operação buscou resguardar a Polícia Militar como instituição perante a opinião pública. "Estancamos o quadro crítico de desvio de condutas de policiais. A PM agora está oxigenada".

Outros locais

Além das cidades relacionadas na ação da PF, que desencadeou a Operação Sexto Mandamento, existem denúncias e outras investigações relacionadas com outros locais do Estado. Ainda em 2008, por exemplo, Polícia Civil e Ministério Público (MP) investigavam a existência de extermínio em dez cidades: Goiânia, Aparecida, Aragarças, Rio Verde, Jataí, Santa Helena, Mineiros, Formosa, Inhumas e Hidrolândia. Além disso, ao longo dos últimos anos, execuções ocorreram em várias outras cidades goianas, inclusive no Entorno do Distrito Federal (DF) (ver quadro).

Um dos exemplos da ação de grupo de extermínio que levou à prisão de policiais foi em Aragarças, na divisa com o Mato Grosso. Policiais militares teriam adotado o papel de justiceiros para atuar na região pelo menos desde 2006.

O núcleo do bando estava montado dentro do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT) de Aragarças. Eles foram acusados pelo MP de participação na morte de nove pessoas e na tentativa de mais uma. Mas também havia suspeita de envolvimento no sumiço de outras. As vítimas eram, em sua maioria, envolvidas em pequenos delitos (como furto, uso e posse de droga) e em tráfico de entorpecentes.

Os policiais presos foram os tenentes Neydimar da Silva Camilo (apontado como o líder do grupo) e Gustavo Rocha, o sargento Celso Pereira de Oliveira e os soldados Odair Fernando Souza de Oliveira, Antônio Divino da Silva Moreira e João Oliveira Diniz Júnior.

Dentre os meios de transporte utilizados nos crimes, estavam motocicletas. De acordo com as investigações do MP, veículos do GPT, que estavam em patrulhamento nos mesmos dias dos crimes, dariam cobertura à fuga dos criminosos.

Enquanto as investigações foram levadas adiante, houve tentativa de intimidação de autoridades. A casa da delegada que atuava na cidade foi alvejada por tiros, assim como seu carro foi riscado com a letra M (de morte). Ela foi afastada da cidade por motivo de segurança.

Além disso, as promotoras que atuavam no caso andavam com escolta policial 24 horas por dia e moravam no município vizinho de Barra do Garças (MT), do outro lado da ponte do Rio Araguaia. O clima da cidade era de terror, mesmo após o afastamento e prisão dos policiais militares.

Os policiais estavam recolhidos no presídio militar na capital, no Batalhão Anhanguera, mas tiveram de ser transferidos para o Presídio Federal de Campo Grande (MS). O MP descobriu que os presos tinham privilégios e que saíam da cadeia militar até mesmo para festas e bebedeiras. Antes da transferência para o presídio federal, o sargento Celso fugiu.

Mais do que os casos em que os suspeitos são denunciados, há também aqueles em que os responsáveis não são descobertos. Ainda em 2008,em Inhumas, famílias de vítimas de homicídio reclamavam que as investigações sobre os casos não avançavam. Havia suspeita de participação de PMs nos crimes. Em dois anos, pelo menos 20 homicídios ocorreram na cidade com características semelhantes: duplas em motos abordavam as vítimas e as executavam. Boa parte dos mortos tinha registro de ficha criminal.

Outros casos
Veja alguns fatos envolvendo policiais militares:
NOVO GAMA
Em 1999, 19 policiais militares foram presos acusados de participação na morte do carroceiro José Roberto Correia Leite, o Bertinho, em Novo Gama. Eles seriam integrantes de um grupo de extermínio que agia na região. Até o ano passado, parte deles continuava recebendo salários do Estado.

ÁGUAS LINDAS E ENTORNO DO DF

Em 2000, o líder comunitário João Elísio, de Águas Lindas, foi morto em circunstâncias mal esclarecidas. Ele vinha denunciando a existência de execuções na região, que atuava principalmente na morte de pequenos criminosos. Após o crime, entidades ligadas aos Direitos Humanos denunciaram a ação de policiais em grupos de execução em 12 municípios do Entorno do Distrito Federal.



PLANALTINA DE GOIÁS
Em 2005, dez acusados de integrar um grupo de extermínio foram presos pela Polícia Civil em Planaltina de Goiás. Eles eram suspeitos da participação na morte de 53 pessoas no município em apenas dois anos. As vítimas tinham passagens por crimes como furto, roubo e tráfico de drogas. O processo ainda tramita pela Justiça.

VALPARAÍSO
Em 2005, quatro suspeitos da participação em um grupo de extermínio (policiais militares entre eles) foram presos em Valparaíso. Eles eram acusados da participação na morte de 18 pessoas em cidades do Entorno e no interior de Goiás. O grupo seria o responsável pela tentativa de homicídio do prefeito de Valparaíso, José Valdécio, e de promotores e juízes em Brasília.



ARAGARÇAS
No início de 2008, seis policiais militares (dois deles oficiais) foram presos sob acusação de participação em um grupo de extermínio em Aragarças e Barra do Garças (MT). Eles foram acusados de participação na morte de nove pessoas e mais uma tentativa de homicídio. Havia também suspeita de participação no desaparecimento de outras. Grupo estaria agindo pelo menos desde 2006. Os policiais presos foram Neydimar da Silva Camilo (tenente), Gustavo Rocha (tenente), Odair Fernando Souza de Oliveira (soldado), Antônio Divino da Silva Moreira (soldado), João Oliveira Diniz Júnior (soldado) e Celso Pereira de Oliveira (sargento), sendo que esse último depois fugiu. Em novembro de 2008, o grupo foi transferido para o presídio federal de Campo Grande (MS), pois tinha privilégios no presídio militar onde estava recolhido em Goiânia.

OUTRAS CIDADES
Em 2008, a Polícia Civil de Goiás investigava a existência de grupos de extermínio, com a participação de policiais militares, em sete cidades: Goiânia, Aparecida, Rio Verde, Jataí, Santa Helena, Mineiros e Aragarças. Além de ter informações sobre estas cidades já citadas, o MP também denunciava a existência de mais ocorrências nas cidades de Formosa, Inhumas e Hidrolândia. Na maioria dos casos, não houve confirmação posterior de prisões de suspeitos.

Em 7 anos, 224 confrontos
Rosana Melo
Cerca de 9% dos assassinatos ocorridos em Goiânia nos últimos sete anos aconteceram durante supostos confrontos entre policiais militares e bandidos. É o que revela a estatística da Delegacia de Investigações de Homicídios.

Neste período foram registrados 2.429 homicídios na capital. Destes, 224 assassinatos ocorreram durante supostos confrontos. Todos os casos foram investigados pela Corregedoria da Polícia Militar, pela Delegacia de Homicídios e pelo Ministério Público.

De acordo com o procurador-geral de Justiça de Goiás, Eduardo Abdon Moura, em alguns destes casos - não disse quantos ou quais porque o processo corre em segredo de Justiça -, descobriu-se que não aconteceram confrontos mas execuções sumárias. Suposta ação do grupo de extermínio em ação desde 1996, segundo o procurador-geral do Ministério Pública.

Coronel investigado em crime
Rosana Melo


Exonerado ontem do cargo de subcomandante e de chefe do Estado Maior da Polícia Militar, o coronel Carlos Cézar Macário assumiu as funções no dia 4 de janeiro deste ano, depois de ter o nome escolhido pelo governador Marconi Perillo por seus "importantes trabalhos à corporação".

Atuante e sempre na linha de frente, coronel Macário tem 51 anos e entrou para a Polícia Militar em 1983. Formado em Direito, já foi comandante das Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam), do 9º e do 13º batalhões, em Goiânia, e do Batalhão Ambiental. Antes de assumir o cargo de subcomandante, esteve à frente do 8º Comando Regional da corporação em Rio Verde. No interior, já foi subcomandante do 10º Batalhão em Luziânia.

O militar já recebeu várias condecorações, como a Medalha do Mérito Legislativo Pedro Ludovico Teixeira, medalha do Guardião, do Gabinete Militar e medalha do 150 anos da Polícia Militar. Coronel Macário é um dos investigados no desaparecimento do soldado Rones Dias, que trabalhava como motorista do coronel quando este comandou o 13º Batalhão da PM em Goiânia. Rones desapareceu em 7 de dezembro de 2005. Uma das primeiras pessoas a chegar ao apartamento do soldado foi o coronel, segundo as investigações. Elas apontam que a morte teria sido queima de arquivo.

'Papai faz, mamãe cria e nós mata', diz adesivo
Rosana Melo
Uma das figuras mais emblemáticas da Polícia Militar da atualidade, o tenente-coronel Ricardo Rocha Batista, de 37 anos, está fora de combate até segunda ordem da Justiça. Ontem ele foi preso preventivamente e será transferido para o presídio federal de Catanduvas (PR), com outros 16 militares.
Ricardo Rocha entrou para a PM em 1991. Já comandou as Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) em 2004 - ano que a PM mais matou em Goiás -, esteve nos comandos de Rio Verde, Formosa e atualmente estava no Grupo de Patrulhamento Aéreo (Graer) da PM. Ano passado, chegou a se candidatar a deputado estadual, mas teve a candidatura cassada pela Justiça Eleitoral.

O tenente-coronel responde na Justiça goiana a processos criminais de homicídios, todos qualificados, contra Rodrigo da Costa Torres, morto em setembro de 2002, em Goiânia, e Marcelo Coka da Silva, morto em setembro de 2004 também em Goiânia.

Em Rio Verde, ele é acusado de matar Cláudio Antônio Schu, Paulino de Almeida, Natron Rodrigues da Silva, Longuimário Coelho de Andrade e Aleandro Ribeiro Silva, às margens de um córrego, em 10 de outubro de 2003.

Ele é suspeito das mortes de Cleiton Silva Sousa, Gilson da Silva Rocha, Nilton Alves Rocha Júnior, Marcondes da Silva Carvalho e Amilton Pereira Rocha,em Cachoeira Alta, no dia 6 de março de 2006.
Consta ainda na Justiça contra o militar, processo que apura a morte de Alessandro Ferreira Rodrigues, o Nego Léo, morto em setembro de 2006; o assassinato do adolescente David Morais, em 11 de março de 2001; de Bruno dos Anjos Ribeiro, em junho de 2004; além de denúncias de abuso de autoridade e de ameaças contra testemunhas.
Afastamento
Quando comandava o batalhão de Formosa, o então major foi acusado de envolvimento em assassinatos ocorridos em Flores de Goiás e Alvorada do Norte. O Ministério Público chegou a pedir o afastamento dele do cargo e Ricardo Rocha e outros seis militares, os sargentos Wanderley Ferreira dos Santos, Gerson Marques Ferreira e Gilson Cardoso dos Santos e os soldados Francisco Emerson Leitão de Oliveira, Ederson Trindade e Lourival Torres Inez, foram presos temporariamente. Geson Marques Ferreira e Ederson Trindade foram presos ontem pela PF junto com Ricardo Rocha.

Eles teriam matado três pessoas acusadas de furtar propriedades rurais naqueles municípios. Em uma das ações, testemunhas contaram que no carro usado pelos militares havia um adesivo com os dizeres: "Papai faz, mamãe cria e nós mata".

Em entrevista concedida no ano passado ao POPULAR, o tenente-coronel Ricardo Rocha negou integrar um grupo de extermínio e se defendeu dizendo que é um militar voltado aos interesses de Goiás. Durante a entrevista, disse que em casos de confrontos com bandidos, atira para matar.

Reveja a entrevista que Ricardo Rocha sedeu ao Correio Braziliense

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