GOIÁS: Entorno é responsável por 40% dos homicidios registrados no estado

GOIÁS: Entorno é responsável por 40% dos homicidios registrados no estado

22/08/2011 às 10h30
Diário da Manhã

As 19 cidades de Goiás no Entorno do Distrito Federal são responsáveis por quase 40% dos casos de homicídio registrados no Estado em 2010, embora concentrem apenas 20% da população. Há cidades com 75 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes, o que equivale ao triplo da média nacional de assassinatos, segundo o Ministério Público de Goiás (MP-GO). Mesmo assim, a região não tem delegacia de homicídios.
De acordo com reportagem veiculada pelo site G1, as cidades goianas do Entorno têm 6 mil mandados de prisão não cumpridos, 10 mil inquéritos parados, conforme dados do MP. Nenhuma cidade do Entorno tem mais de quatro juízes. É o caso, por exemplo, da cidade goiana do Novo Gama. Uma rua separa o município da região administrativa do Gama, no Distrito Federal, onde há 12 juízes.

Ao site, o coronel Edson Costa Araújo, coordenador do Gabinete de Gestão de Segurança do Entorno, órgão ligado à Secretaria de Segurança Pública de Goiás, destacou que a região não apresenta aplicabilidade da Justiça e por isso conta com tantos inquéritos policiais. O gabinete foi criado em fevereiro passado, para tentar reverter os altos índices de criminalidade da região.

Por conta disso, policiais de Goiás que atuam na região colocaram outdoors na divisa entre o Distrito Federal e duas das cidades mais violentas do Entorno – Águas Lindas e Valparaíso – alertando motoristas sobre a falta de segurança. “Cuidado. Você está entrando em uma das regiões mais violentas do planeta”, diziam os outdoors. Depois de meses de estudo, Araújo disse na reportagem que devem ser criadas no Entorno companhias de polícia nos moldes das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), implantadas em favelas dominadas pelo tráfico no Rio de Janeiro. Segundo ele, a ideia é colocar na rua uma polícia comunitária, que se aproxime da população.

Nessas companhias devem trabalhar policiais recém-formados, para evitar "contaminação" pela corrupção, disse. Sua implantação deve ser acompanhada de políticas públicas em outras áreas, como saneamento e abertura de escolas. O projeto ainda depende de aprovação do governo de Goiás. A reportagem ainda destaca que, atualmente, a região conta com 390 policiais civis, quando o necessário seriam pelo menos mil, segundo o presidente do sindicato dos policiais, Silveira Alves. Eles trabalham com poucos equipamentos, munição comprada do próprio bolso, balas e coletes vencidos, e em viaturas sem rádio e com pneus carecas, afirma.

Na Delegacia da Mulher de Luziânia, que até o início do mês era a única em todo o Entorno, não há um espaço reservado para ouvir as vítimas de estupro, e os agentes escolhem os casos em que há risco de vida para acompanharem, pois não há efetivo para atender a todos os casos. Segundo a agente Deusa Moreno, as ocorrências envolvendo mulheres vem aumentando com a propagação do crack. No primeiro semestre, foram 15 homicídios, contra 4 no mesmo período do ano passado. Deste total, apenas dois foram casos de violência doméstica.

Providências
Em março, ocorreram 71 homicídios nas cidades do Entorno, o que levou o governador de Goiás, Marconi Perillo, a pedir ajuda para a Força Nacional. Desde abril, a Força atua em alguns dos municípios mais violentos da região – Águas Lindas, Valparaíso, Cidade Ocidental, Luziânia e Novo Gama.
Numa audiência pública sobre a segurança do Entorno, realizada na Câmara Legislativa do DF, no último dia 12, representantes das secretarias de Segurança Pública do DF e de Goiás, do Ministério da Justiça, deputados distritais, especialistas e representantes da sociedade civil apontaram a ausência do Estado e de oportunidades como razões para a escalada de violência. O site entrevistou a promotora de Justiça Patrícia Oliveira e, segundo ela, a situação já foi pior. Ela coordena o Projeto Entorno do MP-GO, que desde 2007 acompanha a situação de segurança e social da região e cobra ações de Goiás, do DF e da União.
Para ela, duas ações são emergenciais para diminuir a violência no Entorno. A primeira, é convocar prioritariamente pelo menos 70% dos 300 policiais já aprovados em concurso, disse. A segunda, é a implantação de presídios em Formosa, Águas Lindas e Novo Gama. De acordo com a promotora, R$ 81 milhões para essas obras foram liberados em 2008, por um programa do Ministério da Justiça, mas permanecem nos cofres da União, pois nem o DF, nem Goiás, nem as prefeituras apresentaram projetos para construção.

PRECARIEDADE
Os policiais civis que atuam no Entorno reclamam da falta de estrutura para trabalhar. Na 1ª Delegacia de Polícia de Valparaíso, visitada pela equipe de reportagem do G1, faltam grades nas janelas, o carro usado pelos policiais não tem rádio e os pneus estão carecas. A contenção de gastos faz com que policiais que atuam no Entorno do Distrito Federal tenham uma cota de 11 balas por semestre, segundo um policial que pediu para ser identificado apenas como Rodrigo.
Na matéria, o coordenador do Gabinete de Gestão de Segurança do Entorno admitiu que a situação é precária, mas diz não saber da falta de quipamento básico. Segundo ele, o investimento no Entorno beneficia não apenas as cidades de Goiás, mas também o Distrito Federal. Edson Costa ainda disse que o Distrito Federal tem fundo constitucional (verba repassada pelo governo federal), de R$ 10 bilhões. Para ele, com um R$ 1 bilhão por ano a questão da segurança estaria resolvida.

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