(Foto: Divulgação)
O escândalo do assédio envolvendo a figurinista da Globo, Su Tonani, e o ator José Mayer rompeu fronteiras. Após ter amplo destaque na imprensa brasileira, foi a vez do noticiário internacional chamar atenção para o ocorrido.
O jornal britânico 'Daily Mail' noticiou que 'uma estrela de telenovela no Brasil se desculpou por ter assediado sexualmente uma colega no set de gravações dias depois de dizer que a vítima estava o confundindo com seu personagem vilão'. O jornal também repercutiu o manifesto de estrelas globais em apoio a Su Tonani.
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Na matéria ainda era possível ler sobre a luta contra o assédio sexual e a violência doméstica em países da América Latina, com destaque para a força que o Brasil tem culturalmente: "As telenovelas brasileiras são frequentemente traduzidas para outras línguas e vistas em todo o mundo".
No jornal italiano 'La Republica', Mayer foi lembrado por seu personagem em 'Presença de Anita', destacando que até a ex-presidente Dilma Rousseff deu atenção à denúncia de assédio.
Entenda o caso
No princípio era uma denúncia feita a um colunista de jornal. Sem nome, sem rosto e feita numa página de fofoca. Agora o relato ficou sério, ganhou um rosto e foi feito sem medo em um jornal de proporções nacionais, a Folha de S.Paulo.
Su Tonani, figurista da Globo, veio a público dar detalhes do assédio que diz ter sofrido de um dos atores mais prestigiados da Rede Globo, José Mayer. O que tem fama de gala e faz mulheres suspirarem ao redor do país.
A moça conta como tudo aconteceu e, no fim, faz um apelo.
Confira trechos abaixo:
"Eu, Susllem Meneguzzi Tonani, fui assediada por José Mayer Drumond. Tenho 28 anos, sou uma mulher branca, bonita, alta. Há cinco anos vim morar no Rio de Janeiro, em busca do meu sonho: ser figurinista"
"A primeira 'brincadeira' de José Mayer Drumond comigo começou há 8 meses. Ele era protagonista da primeira novela em que eu trabalhava como figurinista assistente. E essa história de violência se inicia com o simples: “como você é bonita”. Trabalhando de segunda à sábado, lidar com José Mayer era rotineiro. E com ele vinham seus “elogios”. Do “como você se veste bem”, logo eu estava ouvindo: “como a sua cintura é fina”, “fico olhando a sua bundinha e imaginando seu peitinho”, “você nunca vai dar para mim?”.
"Foram meses envergonhada, sem graça, de, não raros, sorrisos encabulados. Disse a ele, com palavras exatas e claras, que não queria, que ele não podia me tocar, que se ele me encostasse a mão eu iria ao RH. Foram meses saindo de perto. Uma vez lhe disse: “você é mais velho que o meu pai. Você tem uma filha da minha idade. Você gostaria que alguém tratasse assim a sua filha?'"
"Em fevereiro de 2017, dentro do camarim da empresa, na presença de outras duas mulheres, esse ator, branco, rico, de 67 anos, que fez fama como garanhão, colocou a mão esquerda na minha genitália. Sim, ele colocou a mão na minha b*ceta e ainda disse que esse era seu desejo antigo. Elas? Elas, que poderiam ser eu, não ficaram constrangidas. Chegaram até a rir de sua “piada”. Eu? Eu me vi só, desprotegida, encurralada, ridicularizada, inferiorizada, invisível. Senti desespero, nojo, arrependimento de estar ali. Não havia cumplicidade, sororidade".
"Nos próximos dias, fui trabalhar rezando para não encontra-lo. Tentando driblar sua presença pra poder seguir. O trabalho dos meus sonhos tinha virado um pesadelo. E pra me segurar, eu imaginava que, depois da mão na buceta, nada de pior poderia acontecer. Aquilo já era de longe a coisa mais distante da sanidade que eu tinha vivido".
"Até que, em um set de filmagem com 30 pessoas, estávamos, entre elas, ele e eu. Ele no centro do set, sob os refletores, no cenário, câmeras apontadas para si, prestes a dizer seu texto de protagonista. Neste momento, sem medo, ameaçou me tocar novamente se eu continuasse a não falar com ele. E eu não silenciei. “VACA”, ele gritou. Para quem quisesse ouvir. Não teve medo. E por que teria, mesmo?"
"Chega. Acuso o santo, o milagre e a igreja. Procurei quem me colocou ali. Fui ao RH. Liguei para a ouvidoria. Fui ao departamento que cuida dos atores. (...) Contei que eu não conseguia encontrar mais motivos, forças para estar ali. A empresa reconheceu a gravidade do acontecimento e prometeu tomar as medidas necessárias. Me pergunto: quais serão as medidas? Que lei fará justiça e irá reger a punição? Que me protegerá e como?".
"Sinto no peito uma culpa imensa por não ter tomado medidas sérias e árduas antes. (...) Porque a gente acha que o ator renomado, 30 e tantos papéis, garanhão da ficção com contrato assinado, vai seguir impassível, porque assim lhe permitem, produto de ouro, prata da casa. E eu, engrenagem, mulher, paga por obra, sou quem leva a fama de oportunista".
"Falo em meu nome e acuso o nome dele para que fique claro, que não haja dúvidas. Para que não seja mais fofoca. Que entendam que é abusivo, é antigo, não é brincadeira, é coronelismo, é machismo, é errado. É crime. (...) Que entendam que não passarão. E o que o meu assédio não vai ser embrulho de peixe. Vai é embrulhar o estômago de todos vocês por muito, muito tempo".
A assessoria de imprensa da Globo foi procurada pelo Notícias Ao Minuto Brasil, mas preferiu não se pronunciar sobre o caso.
O relato de Su Tonani foi escrito na íntegra na coluna 'Agora Que São Elas', da Folha. Horas depois da repercussão do depoimento a Folha retirou o texto do ar e explicou:
“O post foi retirado do ar porque desrespeitou o princípio editorial da Folha de só publicar acusação após ouvir e registrar os argumentos da parte acusada. Tão logo esse defeito seja sanado, o texto voltará ao ar, com o devido espaço para o contraditório.”
Acusado de assédio pela figurinista da Globo Su Tonani, e outras funcionárias da emissora, José Mayer veio a público admitindo que errou e cometeu os atos citados pela colega de trabalho.
O galã vem sofrendo fortes represálias da classe artística e foi afastado das novelas, por decisão da Globo.
Leia carta enviada por José Mayer à Globo e ao público.
"Carta aberta aos meus colegas e a todos, mas principalmente aos que agem e pensam como eu agi e pensava:
"Eu errei.
"Errei no que fiz, no que falei, e no que pensava.
"A atitude correta é pedir desculpas. Mas isso só não basta. É preciso um reconhecimento público que faço agora.
"Mesmo não tendo tido a intenção de ofender, agredir ou desrespeitar, admito que minhas brincadeiras de cunho machista ultrapassaram os limites do respeito com que devo tratar minhas colegas. Sou responsável pelo que faço.
"Tenho amigas, tenho mulher e filha, e asseguro que de forma alguma tenho a intenção de tratar qualquer mulher com desrespeito; não me sinto superior a ninguém, nao sou.
"Tristemente, sou sim fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas. Não podem. Não são.
"Aprendi nos últimos dias o que levei 60 anos sem aprender. O mundo mudou. E isso é bom. Eu preciso e quero mudar junto com ele.
"Este é o meu exercício. Este é o meu compromisso. Isso é o que eu aprendi.
"A única coisa que posso pedir a Susllen, às minhas colegas e a toda a sociedade é o entendimento deste meu movimento de mudança.
"Espero que este meu reconhecimento público sirva para alertar a tantas pessoas da mesma geração que eu, aos que pensavam da mesma forma que eu, aos que agiam da mesma forma que eu, que os leve a refletir e os incentive também a mudar.
"Eu estou vivendo a dolorosa necessidade desta mudança. Dolorosa, mas necessária.
O que posso assegurar é que o José Mayer, homem, ator, pai, filho, marido, colega que surge hoje é, sem dúvida, muito melhor.
José Mayer"
José Mayer é um dos maiores galãs da Globo e, fora das telas, vive um sólido casamento com Vera Fajardo, com que está desde 1975.
Fonte Notícia ao Minuto
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